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Distrito Federal

Viva Brasília 64 anos: a gastronomia que pulsa nas regiões administrativas

Amarildo Mota

Públicado

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A gastronomia é uma forma de manifestação e um reflexo da identidade. Prova disso é que cada cidade do Distrito Federal tem sabores e temperos próprios e a boa culinária vai além do Plano Piloto. Comida gostosa não tem só um endereço – mas tem brasiliense (nascido ou radicado) por trás.

De uma ponta à outra do Quadradinho, o cardápio de opções gastronômicas é variado. A lista é composta por cafeteria com produtos artesanais da cidade, passando pela comida regional e por pratos autorais, até a tradicional jantinha.

No especial Viva Brasília 64 anos, a Agência Brasília te convida a conhecer lugares para aproveitar o feriado comemorativo com comida boa, feita por pessoas donas de histórias que se misturam com a construção da capital e, quem sabe, descobrir um novo restaurante favorito fora do eixo.

Di Oliveira: “As pessoas estão começando a entender que o empreendedor local precisa da comunidade para crescer” | Foto: Célio Roberto/Divulgação

“Para comer a minha comida tem que viajar mesmo porque você não vai achar nada igual em outro lugar de Brasília. A minha cozinha é autoral. Essa foi a forma que eu encontrei de atrair o cliente. Isso é uma tendência no DF – a criatividade está brotando”, conta a chef Di Oliveira, proprietária do restaurante Brasis, no Lago Oeste.

Desde 2019, a brasiliense recebe clientes de todos os cantos do DF no quintal de casa, onde abriu o restaurante. Os comensais saem de suas casas, segundo ela, em busca de uma experiência: o combo comida boa em meio à natureza.

O espaço fica a 30 km da Rodoviária do Plano Piloto, às margens da Área de Preservação Ambiental (APA) do Planalto Central. A região conta com belezas naturais e é conhecida pela produção orgânica e pelo ecoturismo, além de ter uma comunidade ativa e conectada com o meio ambiente.

Na visão da chef, aos poucos, os moradores das regiões administrativas têm criado apego ao que é de casa. “As pessoas estão começando a entender que o empreendedor local precisa da comunidade para crescer. O movimento é esse: fortalecer o que é nosso”, avalia.

Segundo o presidente do Sindicato dos Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Brasília (Sindhobar), Jael Antônio da Silva, a qualidade e a diversidade dos serviços gastronômicos oferecidos em Brasília consagraram a capital da República como o terceiro polo gastronômico do país.

O Distrito Federal tem esse título “pela qualidade dos restaurantes, pela diversidade da culinária internacional e por ser a cidade onde se encontram as melhores e mais variadas cozinhas regionais de qualquer outra cidade do Brasil. Portanto Brasília, com sua gastronomia, tem muito a contribuir para o turismo federal”, avalia o presidente.

Depois do Plano Piloto, Ceilândia (2.631), Taguatinga (2.413), Samambaia (1.556), Guará (1.552) e Águas Claras (1.377) são as cidades que reúnem o maior número de hotéis, bares e restaurantes, segundo dados da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomércio).

A qualidade e a diversidade dos serviços gastronômicos oferecidos em Brasília consagraram a capital da República como o terceiro polo gastronômico do país

Segundo o secretário de Turismo, Cristiano Araújo, o DF “tem opções para todos os gostos, com bares, restaurantes e feiras populares que oferecem uma grande diversidade culinária. Tudo isso contribui para que os visitantes possam conhecer a gastronomia local”.

“Essa variedade gera emprego e renda para a cidade, impulsionando a economia. A Secretaria de Turismo vem apoiando o setor gastronômico, estimulando a realização de grandes projetos, como o Comida di Buteco, e incentivando a participação dos bares e restaurantes em feiras, festivais e shows”, segue Araújo.

Acordar a cidade

Cheiro de café, ambiente confortável, comida artesanal. O Acorde 27 nasceu, há cinco anos, com o propósito de “acordar” Sobradinho, uma cidade chamada de dormitório. A máxima de levar o melhor para perto de casa se estende à qualidade dos produtos e ao cuidado com os ingredientes.

Marcondes Oliveira da Trindade: “A gente tem essa pegada de buscar matérias-primas artesanais, algumas daqui de Sobradinho mesmo” | Foto: Tony Oliveira/Agência Brasília

“Nosso cardápio é muito diversificado, pensando em ser completo. Somos um espaço de aconchego, pensando em desacelerar. Temos várias comidinhas ligadas à questão da comida afetiva, referências que são familiares. A gente tem essa pegada de buscar matérias-primas artesanais, algumas daqui de Sobradinho mesmo”, conta um dos proprietários, Marcondes Oliveira da Trindade, 26 anos.

O psicólogo apaixonado por cafés conquistou, este ano, o título de vice-campeão brasileiro de barista, inédito para a capital federal. Em breve, a safra do café premiado também estará disponível aos clientes do café. Além dele, o local tem uma extensa carta de grãos e outras bebidas com a iguaria no menu.

Entre os favoritos, estão o espresso lindão e o frappuccino. De comidinhas, o pão com linguiça todo artesanal e o frangostoso são os mais queridos. Para adoçar o paladar, o cheesecake é considerado um sucesso. A casa atende todos os dias, das 9h às 22h.

Sonho construído em família

Pensando no futuro dos filhos, Manoel Rodrigues Freire preferiu investir num negócio próprio a comprar uma casa própria | Foto: Tony Oliveira/Agência Brasília

Há 35 anos, o então garçom Manoel Rodrigues Freire, 55, decidiu pegar as economias que tinha juntado com a esposa para adquirir a casa própria e comprar o restaurante em que trabalhava. Nascido em Água Branca, Piauí, as raízes nordestinas garantiram a afinidade necessária com o negócio, o que tornou o espaço um sucesso no Núcleo Bandeirante.

É do restaurante Sabor da Terra que saiu o sustento do casal e dos dois filhos. Anos depois, conseguiram deixar o aluguel. O local se tornou um negócio familiar, onde todos trabalham juntos – tempero que conquista, não só pelo sabor, mas pelo atendimento aconchegante.

“Eu decidi investir o dinheiro porque, na época, meus filhos eram menores. Pensei no futuro deles. Como vou pagar a faculdade? Em vez de comprar a casa para morar, comprei o lugar para trabalhar. No começo era diferente, e aos pouquinhos, a gente foi trocando as coisas, até chegar no que está hoje”, conta.

Aberto de segunda a segunda para o almoço, o local é sem muito luxo, mas com boa comida caseira. Os pratos mais procurados pelos clientes são os tradicionais: buchada de bode, rabada, sarapatel e cabrito ao molho, todos com quatro acompanhamentos, em porções bem-servidas para duas pessoas.

“Aqui o pessoal fala que tem o tempero nordestino de verdade, a gente trabalha com o nosso gosto. O que as pessoas mais procuram é comidinha caseira, o que oferecemos”. Questionado se tem orgulho de ver as mesas cheias, a máscara de proteção facial não esconde o sorriso. “É bom demais ver o nosso esforço dando certo”.

Amor e tradição

Walnise Amorim da Silva Costa serve mais de 16 sabores de espeto, entre carne, queijo coalho e frango e bacon | Foto: Joel Rodrigues/Agência Brasília

O cheirinho de comida boa toma conta diariamente do Churrasquinho da Wal, na QI 8 do Guará. Com mais de 16 anos de história, o local é comandado pela cozinheira Walnise Amorim da Silva Costa, 54, e serve o melhor da comida brasileira – a jantinha. Composta por espeto de churrasco, arroz, feijão tropeiro, vinagrete e mandioca cozida, a refeição é conhecida pela praticidade e custo-benefício.

O restaurante conta com mais de 16 sabores de espeto, entre carne, queijo coalho e frango e bacon. Outros xodós da clientela são os caldos e a feijoada, sendo que esta é servida sempre às sextas-feiras, além do feijão tropeiro, da galinhada, da maria-isabel e do baião de dois. O funcionamento é de segunda a segunda, no almoço e no jantar.

“É um ambiente familiar em que tudo é feito com carinho. Eu e meus ajudantes, que são todos do Piauí, sabemos fazer comida boa e caprichamos para entregar tudo bem saboroso”, avalia Wal, que é do município piauiense Buriti dos Lopes. Ela chegou a Brasília há mais de três décadas, junto com o marido. Aqui, teve dois filhos e iniciou o empreendimento no ramo alimentício.

“Cheguei e fui trabalhar em supermercado, depois em farmácia. Aí comecei a vender marmitex, até poder abrir meu negócio na minha própria casa. É uma grande conquista para mim. Eu morava de aluguel e hoje essa casa é minha”, relembra ela, que, com dois anos de empreendimento, perdeu o esposo. “Foi difícil, mas continuamos. Fui a primeira pessoa dessa rua a abrir um negócio. E estou muito feliz em ver que está dando certo até hoje”, conclui.

Fonte: Agência Brasilia

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