Distrito Federal
De sátira a estratégia: a evolução política do “Santelmo Urubulino” em Brasília
Em recente publicação, o experiente e conceituado jornalista Tony Duarte (Portal Radar DF) traz uma matéria muito bem elaborada sobre a alucinante tentativa de Arruda de se projetar para a próxima disputa eleitoral ao governo do Distrito Federal.
Diante da irremediável inelegibilidade de Arruda, o jornalista faz alusão, a começar, à campanha eleitoral de 1990 em Brasília, que está entre as mais memoráveis da história local, marcada por episódios que até hoje são referência no imaginário político do Distrito Federal.
Naquela disputa pelo primeiro governo, eleito diretamente pelo voto popular, Joaquim Roriz — então pelo PTR — enfrentou nomes importantes como Carlos Saraiva (PT), Maurício Corrêa (PDT) e o ex-governador Elmo Serejo Farias, que havia sido nomeado pelo regime militar.
Dentre esses personagens, Elmo Serejo ganhou um apelido que viria a se tornar um símbolo de uma prática recorrente na política local: o “Santelmo Urubulino”.
Criado como um personagem fictício pela campanha de Roriz, o “Santelmo” ironizava a fama de Elmo de se apropriar do crédito por todas as obras públicas no Distrito Federal, mesmo aquelas com as quais não tinha relação direta. Com seu olhar direcionado ao céu, em frase emblemática — “Olha lá a lua, fui eu que fiz!” —, o personagem viralizou e passou a representar esse comportamento característico na capital.
Durante essa campanha, o então iniciante na política, José Roberto Arruda, atuava como aliado de Roriz e foi peça importante para popularizar a sátira de “Santelmo Urubulino”. Décadas depois, Arruda não só incorporaria essa imagem como a utilizaria em uma escala diferente, deixando de ser piada para transformar a apropriação de feitos alheios em ferramenta de sua própria narrativa política.
Agora, em meio à pré-campanha para retornar ao Palácio do Buriti, filiado ao PSD, o ex-governador, por enquanto inelegível, enfrenta o dilema da inelegibilidade, mas não deixa de investir nessa narrativa.
Diferentemente da mera reclamação por méritos, Arruda avança, afirmando ter “deixado tudo pronto” para os sucessores, reivindicando obras emblemáticas como as do metrô, inauguradas no governo Roriz, e projetos educacionais que, segundo ele, foram sua marca.
Porém, críticos e a população apontam contradições: as chamadas “centenas de escolas de tempo integral” pelas quais Arruda se responsabiliza são alvo de questionamentos sobre sua real existência e eficácia. Além disso, fracassos como o “shopping popular” abandonado e os Postos Comunitários de Segurança, apelidados de “micro-ondas” pela própria polícia devido ao desconforto, estão longe das narrativas oficiais, revelando um retrato mais complexo e problemático.
O ciclo que começou como uma crítica espirituosa a Elmo Serejo, o “rei das obras que não fez”, ironicamente, hoje encontra eco em Arruda, que se apresenta como mestre das conquistas atribuídas a terceiros. Essa repetição reforça um traço peculiar do cenário político brasiliense: a força das narrativas, muitas vezes acima dos fatos concretos.
A trajetória do “Santelmo Urubulino” ilustra como a caricatura pode transcender a sátira e se transformar em estratégia política, uma lição sobre a facilidade com que discursos dão forma à memória coletiva, mesmo que distorçam a realidade. Resta saber até quando essa estratégia continuará valendo diante de um eleitorado cada vez mais atento e crítico.
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